Maria Degolada: a lenda do Espírito Vingativo que assombra Porto Alegre
Entre becos escuros e noites silenciosas da capital gaúcha, uma figura feminina vagando entre os vivos alimenta o medo e a curiosidade há décadas. Ela é chamada de Maria Degolada, e sua história é uma das mais macabras e impactantes do folclore urbano de Porto Alegre.
A lenda de Maria Degolada
A história da Maria Degolada remonta ao final do século XIX e início do século XX, embora os detalhes variem conforme a versão contada. De acordo com o enredo mais recorrente, Maria era uma jovem simples, moradora de um bairro humilde da cidade de Porto Alegre. Alguns dizem que ela vivia na região da antiga Ilhota, uma comunidade que existia próxima ao bairro Menino Deus, onde a desigualdade social e a violência eram frequentes.
Maria era descrita como uma mulher bonita e de espírito livre, o que gerava inveja e maledicência entre as vizinhas. Envolvida com um homem violento e ciumento, Maria enfrentava um relacionamento abusivo. O companheiro, dominado pelo ciúme doentio e pelo desejo de controlar seus passos, começou a suspeitar que ela o traía. Em uma noite de fúria, após mais uma discussão, ele a atacou brutalmente, cortando-lhe a garganta com uma navalha.
Nesta versão da lenda, Maria caiu no chão, ensanguentada, e morreu ali mesmo, sozinha e em agonia, sem chance de defesa. O crime, apesar da brutalidade, foi abafado, como tantos outros feminicídios ignorados naquela época. O assassino nunca foi preso. A injustiça foi enterrada com o corpo de Maria, mas seu espírito parece ter se recusado a descansar em paz.
Após a morte trágica de Maria, começaram os relatos estranhos nas imediações do local onde o crime teria ocorrido. Pessoas afirmavam ouvir gritos femininos cortando o silêncio da noite, sempre por volta das três da madrugada — a chamada “hora morta”. Outros diziam ter visto uma mulher vestida de branco, com o pescoço dilacerado, vagando pelas calçadas, com os olhos arregalados e uma expressão de dor eterna.
Os relatos mais aterrorizantes sugerem que sua presença não é apenas passiva. Em certas ocasiões, testemunhas afirmam sentir toques frios, ouvir sussurros e até presenciar eventos inexplicáveis, como objetos que caem sem motivo aparente ou luzes que piscam de forma descontrolada.
Ainda hoje, há pessoas que sentem uma intensa sensação de desconforto e medo ao passar por determinadas ruas, como se estivessem sendo observadas.
Taxistas e motoristas de aplicativo contam histórias de uma passageira silenciosa que entra no carro em bairros como Menino Deus, Cidade Baixa ou Azenha e pede para ser deixada nas proximidades do cemitério. Quando chegam ao destino, ela desaparece misteriosamente, deixando apenas o banco molhado de sangue ou com marcas de mãos ensanguentadas.
Há ainda quem diga que Maria aparece apenas para os homens, principalmente os que tratam mal suas companheiras. Ela surgiria como um aviso, uma presença sombria que perturba o sono e o cotidiano dos que se tornam, aos seus olhos, agressores em potencial. Seu espírito, portanto, não é só assombrado — é vingativo.
Lenda ou realidade?
A lenda de Maria Degolada, embora seja uma figura folclórica, é baseada em eventos reais. Maria Francelina Trenes, uma imigrante alemã, foi assassinada em Porto Alegre por Bruno Bicudo, um soldado da Brigada Militar, em 1899. A história de seu assassinato brutal, com o corpo decapitado, inspirou a lenda popular de Maria Degolada, que se tornou um símbolo do folclore da cidade e centro de um culto popular, com relatos de milagres e agradecimentos.
O corte no pescoço é um elemento simbólico potente. Degolar uma pessoa é silenciá-la de forma definitiva. O gesto brutal tem ecos históricos e culturais profundos: reis, hereges, traidores — todos foram degolados ao longo da história para calar sua voz ou cortar sua influência. No caso de Maria, a degola assume um sentido ainda mais perverso: é o símbolo do machismo que tenta silenciar a autonomia feminina.
É por isso que, nas versões mais simbólicas da lenda, Maria aparece tentando falar, mas o sangue escorre de sua garganta e suas palavras não são compreensíveis. Ela se comunica com gemidos, com olhares, com a presença incômoda. Seu corpo espiritual carrega a marca da injustiça, e sua missão é impedir que outras Marias tenham o mesmo destino.
Se a alma de Maria Degolada realmente caminha pelas ruas de Porto Alegre ou se é apenas fruto da tradição oral, ninguém pode dizer ao certo. Mas, como toda boa lenda urbana, sua história continua sendo contada, assombrando os corações e a imaginação de quem escuta.
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