A pequena Valentina - Parte 2


A Pequena Valentina - Parte 2 - Escrito por Ana Claudia Domingues

No exato instante que Giovana viu seu amado marido e sua amada filha mais velha espetando uma boneca idêntica a sua filha mais nova, as palavras da bruxa vieram à sua mente como um letreiro gigante e brilhante: O MAL ESTÁ DENTRO DA SUA PRÓPRIA CASA.

Enquanto a voz da bruxa penetrava seus pensamentos, as risadas de Fernando e Catarina invadiam toda a casa.

Giovana ali, parada com Valentina em seu colo, era completamente invisível aos dois, era completamente inexistente para si mesma. Tudo ali era mais forte que ela, mais forte do que seus pensamentos, mais forte do que seus desejos e vontades. Quis sair dali imediatamente, precisava sair dali, mas algo a prendia, ela lutava contra si mesma, contra seu próprio coração, contra sua própria mente.

Não, Catarina e Fernando não pararam um minuto sequer e Giovana sentia em seus braços, a cada agulhada dada na pequena boneca, Valentina se mexer e se contorcer, havia dor em seus pequenos olhinhos, mas, de algum modo, havia força também.

Já Giovana havia se perdido de si mesma, não tinha força alguma e, de uma forma extremamente sombria, o que acontecia em seu antigo quarto, a prendia ali, despertava toda sua curiosidade, e ela não conseguia, não podia sair.

Ficou por muito tempo ali, olhando atentamente para todas as ações tomadas pelo marido e pela filha mais velha, sabendo que não era vista por eles dois, não poderia ser vista, a atenção estava na ação, única e simplesmente no ato te espetar a boneca. As risadas de Catarina eram absurdamente assustadoras, vindo de uma criança com um rostinho angelical.

A linda menina com olhar de anjo e riso de demônio, pegou a agulha da mão do pai e, com muito cuidado, atenção e destreza, a penetrou no umbigo da pequena boneca.

Valentina resmungou e o coração de Giovana parou. Não porque sua caçula sentia dores, mas ela sabia que o choro podia chamar atenção dos outros dois. E foi o que aconteceu.

O pequeno choro de Valentina invadiu o pequeno quarto.

Fernando e Catarina pararam no mesmo instante.

Os dois, como numa ação completamente robótica, ergueram a cabeça lentamente, e olharam fixamente para Giovana, a deixando sem ar.

O pescoço dos dois parecia agir por conta própria, era como se eles não estivessem ali, seus corpos pareciam controlados como em um terrível vídeo game.

O olhar sério e sombrio assustou Giovana mais do que qualquer coisa, mas, quando os dois, ao mesmo tempo disseram “Olá, querida”, Giovana achou que não seria capaz de suportar o medo.

Olhou para uma Valentina completamente pálida e, finalmente, se mexeu.

Giovana fugiu.

O silêncio que invadiu a casa era ensurdecedor, mais alto que as próprias risadas.

Ao tocar na maçaneta, sua mão tremia, seu corpo todo tremia, exceto o braço que carregava a pequena Valentina.

A porta não abriu, mas ela sabia que não havia trancado. Utilizou de toda a força que tinha, e nada. As duas estavam presas ali e nada poderia ser feito.

Estava desistindo.

Começou a chorar enquanto Valentina permanecia em silêncio.

Então, no andar de cima, as risadas recomeçaram. Mais alto e mais forte do que antes e, de repente, a porta se abriu para que ela pudesse sair.

E assim ela fez.

Atras de si, a porta se fechou sozinha. 

Caminhou pela rua, sem saber o que fazer. Valentina, então, sentiu-se capaz, começou a chorar com muita dor, e Giovana chorava junto, podendo imaginar o quanto doía cada parte do pequeno e frágil corpo da filha.

Pararam em frente a uma igreja que estava trancada.

Ali, embaixo daquela grande cruz, Giovana ouviu um respirar muito forte, bem próximo ao seu ouvido. Cada vez mais próximo. E mais próximo.

E mais próximo.

Quando seus cabelos voaram, ela entendeu que algo da casa a havia acompanhado. Fechou os olhos e tentou fazer uma oração, mas não pôde, as palavras não saíam da sua boca, as palavras não penetravam no seu pensamento.

De olhos fechados, enquanto Valentina chorava a plenos pulmões, Giovana apagou.

Não se sabe por quanto tempo sua mente ficou em branco, não se sabe por quanto tempo seus pensamentos desapareceram, mas, assim que eles voltaram, era como se outra Giovana passasse a existir.

Ela abriu os olhos e sorriu.

Olhou para Valentina e seu sorriso desapareceu.

Valentina parou de chorar em questão de segundos.

Nunca foi tão fácil.

Giovana amou o silêncio da menina e tomou uma atitude a fim de resolver toda essa sombria e misteriosa questão.

Saiu com a menina pela rua e voltou para casa sem ela.

– Eu já me livrei dela, podemos voltar a ser o que éramos. – Disse uma Giovana sorridente.

Seu marido e sua filha a abraçaram, e a felicidade reinou novamente.

Por pouco tempo.

Escrito por Ana Claudia Domingues
Sobre a autora:
Bibliotecária formada pela PUC de Campinas, pós graduanda em produção cultural, arte e entretenimento pela Unyleya. Seu objetivo como colunista segundo ela mesmo afirma é simples, alcançar os amantes das histórias de terror/suspense/mistério e fazer com que suas histórias sejam conhecidas.
Tio Lu
Tio Lu Os meus olhos contemplaram fatos sobrenaturais e paranormais que fariam qualquer valentão se arrepiar. Eu não sou apenas um investigador, tampouco um curioso, sou uma testemunha viva de que o mundo sobrenatural é mais real do que se pensa.

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