Clara e João encaram um passado sombrio vigiado por espectros esquálidos
Na penumbra da sala, o silêncio era cortado apenas pelo leve crepitar de uma madeira antiga que parecia sussurrar segredos. Dona Clara e Seu João estavam sentados no velho sofá de veludo, imóveis, como se o tempo tivesse decidido pousar ali para sempre. O lustre de chifres de cervo pendia do teto, lançando sombras dançantes que se misturavam às figuras esqueléticas e encapuzadas que flanqueavam a cena. Eram presenças silenciosas, quase parte da decoração, com seus rostos deformados observando tudo, como guardiões de um passado que ninguém ousava lembrar.
A casa cheirava a mofo e memórias esquecidas. As cortinas pesadas mal deixavam a luz da lua infiltrar-se pelas janelas, e os quadros nas paredes, com suas paisagens escuras, pareciam contar histórias de um tempo em que a vida ali pulsava. No chão, uma mancha vermelha, quase imperceptível, sugeria algo que fora deixado para trás — um lembrete de que nem tudo podia ser apagado.
Dona Clara segurava as mãos sobre o colo, os olhos fixos em um ponto invisível. Seu João, ao lado, mantinha o olhar baixo, como se carregasse o peso de uma culpa que nunca confessaria. Entre eles, um vazio que não era apenas físico, mas feito de anos de silêncios acumulados. As figuras ao redor pareciam esperar, pacientes, como se soubessem que o momento da verdade estava próximo.
Naquele 31 de julho, a noite parecia mais densa, e o ar carregava uma eletricidade estranha. Talvez fosse o fim de algo, ou o começo de uma revelação. Clara virou o rosto lentamente, encarando uma das criaturas por um instante, e um arrepio percorreu a sala. Não havia medo em seus olhos, apenas uma resignação profunda. João apertou os lábios, e o silêncio voltou a reinar.
Fora da janela, o mundo seguia seu curso, alheio ao que se passava ali. Mas dentro daquela casa, o tempo parecia ter se dobrado sobre si mesmo, e as sombras, aquelas figuras inquietantes, continuavam a vigiar, testemunhas mudas de uma história que talvez nunca fosse contada.
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