Uma jovem é atormentada por versões de si mesma após um pacto demoníaco feito por brincadeira


Recosto-me na cadeira, esfregando o pescoço torcido enquanto espero o vídeo carregar. Já faz semanas e meu sono não tem me revigorado como antes. Quando acordo, minha mesa está cheia de papéis espalhados, minhas anotações desorganizadas. Imagino que possa ser apenas o ar condicionado, mas minha amiga sugeriu que eu poderia estar sonâmbula por causa do estresse, e ela até me ajudou a instalar câmeras noturnas. É a primeira vez que assisto e, embora eu esteja cética, também estou um pouco nervosa.

O vídeo carrega e eu me sento um pouco mais ereto para avançar o clipe. Diminuo a velocidade às 4h07, quando me vejo me mexendo mais durante o sono. Semicerro os olhos para enxergar melhor. O vídeo me levanta da cama, meio grogue, e se levanta ereto. Nada mais. Só fica parado ali.

Cinco minutos se passam e eu começo a achar que é isso, até que vejo um vídeo meu esfregando a cabeça dele. Ele continua esfregando, esfregando, ficando cada vez mais rápido e agressivo. Seu olhar... chateado? Estressado, talvez? Ele fecha as mãos em punho e eu observo sua boca se abrir. Presumo que esteja gritando, mas não instalei microfones, então não tenho certeza. O vídeo me mostra andando pelo meu quarto, com o peito arfando, os punhos ainda cerrados, ocasionalmente se socando. Balançando os braços e derrubando tudo ao redor.

Meu coração dispara e minhas mãos suam. Acho que a coisa da câmera levantou mais perguntas do que respostas, penso comigo mesmo, rindo nervosamente. Estou prestes a desligar o vídeo em que me martirizo quando, de repente, ele vira a cabeça direto para a câmera. Eu congelo. Minha mão paira sobre o mouse. O vídeo se aproxima até que a tela seja preenchida apenas com seu corpo. Lentamente, muito lentamente, ele leva as mãos à cabeça, segura-a por uma fração de segundo e sacode a cabeça completamente. Ele cai no chão, com o pescoço grotescamente deslocado.

Estou tremendo, chorando, não consigo entender o que está acontecendo. Eu me vi quebrando meu próprio pescoço e ainda assim... Estou aqui? Olho fixamente para o meu cadáver até as 4:31, quando percebo a maçaneta do meu quarto girando. Inclino-me para a frente para ver quem poderia entrar. A porta se abre com um rangido e tenho que engolir um grito. Outro eu entra no quarto, direto para o meu corpo sem vida. Ele me pega rápida e casualmente e me carrega para fora do quarto. Não sei para onde foi, mas sei que se passaram exatamente 23 minutos até o segundo eu voltar. Ele não fez nada além de fechar a porta e se esgueirar para a minha cama, com um pequeno sorriso no rosto.

Assim que percebi que ele estava dormindo, avancei para a manhã para ver se algo mais aconteceria. Às 6h, o outro eu pega o celular para tocar o alarme. Quanto mais o observo se preparando para a manhã, mais percebo que foi exatamente assim que comecei o dia. Mesma roupa, mesmo penteado, mesmo olhar confuso para a bagunça no quarto.

Isso significa que eu, respirando em carne e osso, me livrei do meu outro eu e não me lembro disso. Não faz sentido. Eu... eu deveria estar morto. Eu deveria... Eu não sei. Não consigo entender. Tudo o que consigo pensar é... o que eu sou?

Fico nervoso e paranoico o resto do dia. Fico esperando ver meu cadáver escondido na banheira ou jogado na despensa. Estou estressado. Acho que isso era de se esperar, considerando que me vi me matando e também movendo meu próprio cadáver. Quase tenho vontade de rir de como isso soa bobo.

Quando finalmente decido ir para a cama, estou morrendo de medo de dormir. Olho para o teto, sentindo como se tivessem se passado apenas alguns minutos. Viro para olhar o despertador e vejo que são 4h01. Meu coração congela. O que vai acontecer se eu não conseguir dormir para fazer o que quer que eu tenha feito a semana toda? O tempo passa devagar. 4h07 se passam e eu quero me dar um chute por estar tão assustada. Meus pais não me deixariam esquecer isso se soubessem que eu pensava que poderia me matar dormindo.

Estou quase cochilando quando ouço minha maçaneta balançar. Eu me endireito de repente. Não... não, eu não fiz isso, como pôde acontecer? A maçaneta gira e minha porta se abre lentamente. Tento enxergar no escuro e quase vomito quando vejo os olhos brilhantes me encarando. Outro eu entra sorrateiramente no quarto e me observa por um segundo. Estou paralisado de medo. Ele olha ao redor do meu quarto e encara o local onde meu corpo estava ontem à noite, consternado. Ele olha de volta para mim e começa a... rir? Tipo, gargalhando pra caramba. Que porra está acontecendo.

Ele enxuga as lágrimas que escorrem pelo rosto e me diz: "Você é péssimo em fazer acordos, sabia? Nunca ouviu 'Cuidado com o que deseja'? Eu nunca disse que seria justo."

Estou quebrando a cabeça tentando entender o que isso significa. E então me dou conta. A festa. Um suspiro soluçante escapa de mim. Meus amigos e eu estávamos em uma festa, brincamos com tabuleiros Ouija e tentamos invocar demônios e "vender nossas almas" por coisas legais. Conversamos com alguém, mas cada um de nós achou que era o outro movendo a peça.

A coisa se aproximou de mim e acariciou meus cabelos. "Você queria ser imortal, querida. Eu te dei o que você queria, e do jeito que estou fazendo, estou conseguindo uma quantidade infinita de almas para tomar. É uma situação em que todos ganham, entende?"

Abro a boca para dizer algo, mas não sai nada. Minha pele se arrepia enquanto minha réplica passa a mão pelo meu rosto.

"Você não me deixou fazer isso do jeito fácil esta noite, mas acordo é acordo." Ele leva a outra mão até minha cabeça e eu sei o que vai acontecer.

Um pequeno sussurro me escapa. "N-não. Por favor."

Ele estala a língua para mim com tristeza. "Desculpa, querida. Sua mãe nunca te disse para não dançar com o diabo?" E com isso, uma dor aguda começou no meu pescoço e desceu pela minha espinha.

Acordei e, pela segunda semana consecutiva, senti uma torção no pescoço. Estou começando a achar que deveria ouvir meu amigo e instalar câmeras para ver que loucuras estou fazendo dormindo...

Por TC Marie.
Gustavo José
Gustavo José Fascinado pelo mundo do terror e do suspense, sou o fundador do blog Terror Total, onde trago histórias envolventes e arrepiantes para os leitores ávidos por emoções fortes.

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