Zoroastrismo: Ahriman e os Daevas

O zoroastrismo, uma das religiões mais antigas do mundo, originária da antiga Pérsia (atual Irã), é conhecida por seu dualismo cósmico, onde forças do bem e do mal estão em constante confronto. Fundada pelo profeta Zoroastro (ou Zaratustra) por volta do século VI a.C., essa fé enfatiza a luta entre Ahura Mazda, o deus supremo do bem, da verdade e da luz, e seu antagonista, Ahriman, o espírito destruidor que representa o mal, a mentira e as trevas. Nesse contexto, a demonologia zoroastriana não é apenas uma coleção de mitos assustadores, mas um sistema filosófico que explica a origem do sofrimento, da corrupção e das forças negativas no universo. Neste artigo, exploramos o papel central de Ahriman e dos daevas, os demônios que o auxiliam nessa batalha eterna.

Ahriman, também conhecido como Angra Mainyu (o "Espírito Destruidor" em avéstico, a língua sagrada do zoroastrismo), é a encarnação primordial do mal. De acordo com os textos sagrados, como os Gathas (hinos compostos pelo próprio Zoroastro) e o Avesta, Ahriman não é um deus criador, mas um ser espiritual que existe em oposição a Ahura Mazda desde o início dos tempos. Ele não cria nada de positivo; em vez disso, perverte e corrompe a criação divina. Por exemplo, enquanto Ahura Mazda cria a vida, a luz e a ordem, Ahriman introduz a morte, a escuridão e o caos. No Bundahishn, um texto cosmológico zoroastriano posterior, descreve-se como Ahriman, ao perceber a superioridade de Ahura Mazda, foge para as trevas e começa a fabricar seus próprios agentes do mal para combater a criação.

Ahriman é frequentemente retratado como um ser astuto e enganador, que não possui poder criativo verdadeiro, mas usa a mentira (druj) como sua principal arma. Ele é o "daeva dos daevas", ou seja, o demônio supremo que lidera uma horda de entidades malignas. Sua influência se manifesta no mundo material através de desastres naturais, doenças, guerras e vícios humanos. No zoroastrismo, o mal não é inerente ao universo, mas uma invasão de Ahriman, que busca destruir a harmonia cósmica. No final dos tempos, segundo a escatologia zoroastriana, Ahura Mazda derrotará Ahriman em uma batalha final, purificando o mundo e restaurando a perfeição original.

Os daevas são os demônios subordinados a Ahriman, formando o exército das forças das trevas. O termo "daeva" deriva do proto-indo-europeu e está relacionado a "deva" no hinduísmo, onde significa "deus" ou "divindade". No entanto, Zoroastro inverteu esse conceito: enquanto no vedismo (antecessor do hinduísmo) os devas são seres benevolos, no zoroastrismo, os daevas são demônios enganadores que levam a humanidade ao erro. Nos Gathas, Zoroastro os descreve como "deuses errados" ou divindades falsas que enganam os humanos e a si mesmos, promovendo a violência, a ganância e a falsidade.

Originalmente, os daevas podem ter sido divindades adoradas em religiões pré-zoroastrianas iranianas, semelhantes aos deuses indo-arianos. Zoroastro, em sua reforma religiosa, os rebaixou a status demoníaco, associando-os ao mal para enfatizar o monoteísmo ético centrado em Ahura Mazda. Ahriman cria ou comanda esses daevas para opor-se aos amesha spentas (imortais benevolos) e aos yazatas (divindades menores do bem). Entre os daevas mais proeminentes estão figuras como Aka Manah (mau pensamento), Druj (a mentira personificada), Indra (um daeva associado à guerra e tempestades, similar ao deus védico), Saurva (demônio da destruição) e Nasu (demônio da decomposição e impureza). Cada um deles é responsável por um aspecto específico do mal: por exemplo, Aka Manah corrompe a mente humana, incentivando pensamentos negativos e decisões erradas.

No folclore e nos textos posteriores, como o Shahnameh (o Livro dos Reis, de Ferdowsi), os daevas são retratados como criaturas do deserto iraniano, espalhando aridez, fome e confusão. Ahriman os usa para invadir o mundo, criando monstros, pragas e ilusões. Por exemplo, no início do Shahnameh, um daeva chamado Khazarun, filho de Ahriman, é mencionado como um agente do caos primordial. Essa demonologia reflete a visão zoroastriana de que o mal é ativo e organizado, exigindo vigilância constante dos fiéis, que devem escolher o caminho da verdade (asha) sobre a mentira.

A demonologia no zoroastrismo não é meramente mitológica; ela influencia ética e práticas diárias. Os fiéis são encorajados a combater Ahriman e os daevas através de boas ações, pensamentos puros e rituais de purificação, como o fogo sagrado, que simboliza a luz divina. Essa luta cósmica reflete o livre-arbítrio humano: cada pessoa pode alinhar-se com Ahura Mazda ou sucumbir aos enganos dos daevas. Influências dessa tradição persistem em religiões posteriores, como o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, onde conceitos de um "diabo" e demônios opositores a Deus ecoam Ahriman e seus lacaios.

Em resumo, Ahriman e os daevas representam o núcleo da demonologia zoroastriana, ilustrando a eterna batalha entre o bem e o mal. Essa visão dualista não só moldou a espiritualidade antiga, mas também contribuiu para o entendimento ocidental do mal como uma força consciente e organizada. Estudar esses elementos nos lembra da importância da escolha ética em um mundo cheio de tentações e enganos.
Gustavo José
Gustavo José Fascinado pelo mundo do terror e do suspense, sou o fundador do blog Terror Total, onde trago histórias envolventes e arrepiantes para os leitores ávidos por emoções fortes.

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